segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Correio Braziliense - 1ª Bienal Internacional de Poesia


Brasília, segunda-feira, 8 de setembro de 2008 – Correio Braziliense
A 27ª Feira do Livro de Brasília e a 1ª Bienal Internacional de Poesia terminam com saldo positivo: bom público e crescimento de vendas.
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Chega ao fim a estação da prosa e do poema
Por Naiobe Quelem

Brasília se despediu ontem de dois eventos culturais: a Feira do Livro de Brasília e a Bienal Internacional de Poesia (BIP). E o saldo é positivo. Até mesmo a Feira do Livro – que quase não pôde completar seu calendário por falta de verbas – tem balanço animador. Segundo a Câmara do livro do Distrito Federal (CLDF), a 27ª edição recebeu cerca de 520 mil visitantes, gerou 420 empregos diretos e indiretos e obteve um crescimento nas vendas de 6% em relação ao ano anterior. Para o presidente da CLDF, Valter Silva, o sucesso está em extrapolar o foco meramente comercial de uma feira: “além dos estandes, o projeto contempla palestras, workshops, oficinas, apresentações teatrais e musicais. Todas abertas ao público.

Os números confirmam a simpatia dos brasilienses pelo evento. A CLDF, no entanto, não terá tempo para comemorações nesta semana. Após a Secretaria de Cultura do Distrito Federal negar o repasse de R$ 400mil que deveriam custear parte das despesas da feira, os organizadores do evento tentam administrar as dívidas, que vão desde de gastos de montagem, técnicos de som e luz até passagens aéreas, pagamento de profissionais e cachês.

Para tentar uma solução, os diretores da CLDF se reuniram com os livreiros ontem à tarde. “Montamos uma comissão e nesta segunda-feira, vamos à Secretaria de Cultura saber quais eventos poderemos realizar nas cidades do Distrito Federal para ter direito ao recurso de R$ 400 mil e, assim, quitarmos os débitos assumidos. Por enquanto conseguimos negociar, mas precisamos de uma resposta até o final desta semana”, disse Valter.

A iniciativa dos livreiros em tentar negociar veio após declaração do secretário-adjunto de Cultura, Beto Sales, publicada ontem no Correio. Segundo ele, a secretaria poderia repassar o dinheiro, mas para outros eventos da Câmara, como uma edição da feira em cidades do DF. “Tudo desde que esteja de acordo com as exigências legais”, enfatizou Sales, ao lembrar que a secretaria deu início a uma mudança profunda na liberação do dinheiro para a realização dos eventos. Ele explicou ainda que o departamento jurídico do órgão detectou falta de transparência na destinação da verba proposta pelos organizadores.

O aporte inicial, que deveria ser liberado pela Secretaria de Cultura, era de R$ 700 mil e foi aprovado por meio de emenda parlamentar em outubro de 2007. No início de agosto, a secretaria reduziu a verba para R$ 600 mil, três dias antes do início da feira, para R$ 400 mil. “Beto Sales esteve presente na abertura da feira e disse que liberaria os recursos. Isso está documentado. Agora, a secretaria nega o repasse alegando atraso na entrega do projeto. Isso não é verdade. Devido às três alterações nos valores, tivemos que refazer a proposta para adequá-la à nossa realidade financeira. Não é simples. É preciso fazer cortes, ajustar custos e ainda fazer orçamento em três empresas. E isso leva tempo. No entanto, a última redução da verba ocorreu a três dias do início da feira”, argumentou Valter.

A maratona da BIP

Rui Mascarenhas e Caco Pontes,
Cabeça! Praça da Cultura

Antônio Miranda, idealizador da 1ª Bienal Internacional de Poesia de Brasília, poeta, professor da UnB e diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, está sorrindo à toa. “O resultado superou minhas expectativas”, avalia. “Afinal, as pessoas não faziam idéia da proposta. Diferentemente do festival de Medellin, dedicado somente à leitura de poesias, o nosso buscava espetaculização do gênero. Por entendermos que a poesia do século 21 é multimídia, interagimos com as mais diferentes manifestações artísticas. Tomamos a Praça da Cultura, invadimos os espaços dos Sesc, das bibliotecas públicas, das galerias de artes, dos museus, dos teatros, dos cinemas, das universidades, dos bares e dos cafés. E também participamos da programação da Feira do Livro e do cena Contemporânea. O evento se diluiu por todo o DF e, por isso, infelizmente, não temo a estimativa de público. Mas acredito que tenham sido milhares de pessoas.”

Durante cinco dias, a BIP reuniu mais de 140 poetas nacionais e estrangeiros que se revezaram em diferentes espaços para cumprir uma maratona de atividades. “Quando recebi a programação, cheguei a ficar tonto. Queria entender como daria conta de participar de tudo. Mas conseguir e foi enriquecedor. Trocamos informações e já estamos pensando em outras atividades para dar continuidade ao movimento”, disse o poeta Rui Mascarenhas, que veio de Salvador.

A BIP também contou com participantes de 15 países: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Peru, Venezuela, Uruguai, Panamá, México, Portugal, Espanha, Cabo Verde, Guiné-Bissau, França e Itália. Radicada na Itália a 38 anos, Márcia Theóphilo é nome reconhecido na Europa e uma das grandes responsáveis pela difusão da poesia brasileira por lá. Nascida em fortaleza, em 1941, e formada em antropologia, a poetisa se dedica a temas relacionados à Floresta Amazônica, seus povos, animais e mitos, além de denunciar sua destruição. “Esse tipo de evento é um marco para a poesia brasileira. Fiz questão de estar aqui. Na Europa, eventos literários acontecem a cada 15 dias. Mas são pagos”, comentou Márcia, que encerrou ontem a participação da BIP na Feira do Livro com bate-papo no Café Literário.
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