quarta-feira, 28 de maio de 2008

MEIOHOMEM, por Steven F. Butterman

MEIOHOMEM - Eternidade, meu canto que fica!
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O livro de poesia que você tem em mãos contém versos que lembram uma substanciosa sopa de poemas apaixonados, liquidificados após terem sido cozidos nos diferentes caldeirões dos principais movimentos literários que marcaram o final do século XIX.
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Versos ritmicamente dilaceradores expostos à tábua da mesa humana onde foram contaminados pelos males e os vícios da brasilidade histórica que fingimos não existir, simulamos desprezar, mas que no íntimo inconfessável do “...meu apartamento nas costas do outro lado da rua” adoramos, revivificamos, amamos meio que sadomasoquisticamente.
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Estas folhas estão vivas e “exalam o odor amargo de suor e mofo”, das minorias que sobrevivem escancaradamente à margem “... Para O Nosso Gozo E Fastio” em “...Cidades Inundadas De Conspiração E Medo”, onde foram subjugadas à sombra do autoritário esplendor da arquitetura moderna, estrangeira, alienígena, “...frankenstenianamente-urbana”, que não as refletem, mas contribui para o seu abandono e isolamento.
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“...condenadas a viverem fora dos altos muros ideológicos, tornam-se presas impotentes das insuficiências dos bons costumes, onde são lançadas às garras e ao estraçalhamento dos conluios do egoísmo humano”, acusa o poeta em entrevista recente.

Mas também há cores no calor poético de membros piroplásticos que derretem o concretamento dos sentidos promovendo o amor incondicional “...­sejam-homens-mulheres-ou-qualquer-outra-forma-de-amar-convencionada-ou-não!” porque, quase ingenuamente, o autor declara: “Só é permitido o Amor!”.
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E esse amor incondicional também vale para os excluídos, os marginais, os exilados na periferia: “Oh, belos, talhados a bala!”, estes amantes versificados que saudavelmente reagem aos estímulos do bom viver e “...despreocupadamente se estreitam e se cornupciam!” contra a apatia dos destinismos e da mediocridade do cotidiano massacrante.

É com o espírito dançando ao som destas palavras “...alimento que a boca abate a pancadas”, que somos levados nas correntezas de um “...rio de seres profundamente humanos”, navegando por entre linhas de “línguas” “sinuosas” onde encontramos deliciosos “venenos” que devem ser ingeridos sem prescrição médica, mas em doses aleatórias, homeopáticas, visando que possam – física e metafisicamente – habitar em nossas almas.

Rui Mascarenhas é um poeta que reinventa brilhantemente as dualidades de nossas realidades impossíveis, cabendo a nós, leitores cruéis e também compassivos, saborearmos esses versos com os pés desnudos, no chão úmido, imundo, olhando para as estrelas deslumbrantemente assombrosas, apocalípticas.
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Steven F. Butterman, Ph.D.
Associate Professor of Portuguese
& Director, Portuguese Language Program
Department of Modern Languages and Literatures
University of Miami
P.O. Box 248093
Merrick Building Rm. 212-07
Coral Gables, FL  33124-2074
U.S.A.
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