sábado, 9 de fevereiro de 2008

Jornal Correio da Bahia


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Salvador, sábado, 09 de fevereiro de 2008
Poemas inteiros de um roqueiro
Vocalista da Meiohomem e produtor do extinto Garage Rock, Rui Mascarenhas lança seu primeiro livro.
por Margareth Xavier

Um livro sem índice, feito para ser dedilhado. A idéia do autor é que leitores aventureiros se encontrem com os poemas e com eles estabeleçam um diálogo, sob o risco permanentes de serem engolidos por estrofes ou atropelados por versos que falam alto e em ritmo acelerado daquilo que em geral temos pouco tempo para ouvir. O poeta é o baiano Rui Mascarenhas, conhecido produtor dessas terras, agora radicado em São Paulo e definitivamente entregue à sua literatura. O primeiro livro, o independente Meiohomem, ganha mais um lançamento hoje, a partir das 18h, na Feira Hype que acontece no Icba.

Seus poemas, 25 no total, são acelerados, urbanos e ricos em imagens que se constroem com um rápido traveling que, muitas vezes, sai do geral para mergulhar nas entranhas do seu próprio autor (Veneno). O ir e vir de suas construções desarrumações poéticas estão presentes no olhar agudo para a paulicéia suas múltiplas faces (São Paulo), ácido para uma Bahia que desafina no tom e desequilibra em sua realidade off mídia (Bahia!) e desesperado para a biografia dos nascidos e crescidos na rua (Diário de um negro ratatáia que nunca morre).

Parte da verve que usa para atirar o texto vem de uma longa estrada de roqueiro, quando a banda homônima de seu livro já causava irritação na galera hardcore pela dualidade sugerida no nome. “Mas mas só depois de ouvir é que as pessoas entendiam que o nome aponta mais para a incompletude, para esse homem que está sempre em construção, que para qualquer outra coisa”, comenta Rui. Era ele que assinava letras e respondia pelo vocal da banda, que teve vida curta, sobrevivendo por dois anos à forte personalidade de cada um de seus integrantes (além de Rui, Luiz na guitarra, Marcelo na bateria e Euler no baixo, depois substituído por Jefão).

A entrada rock’n’roll lhe rendeu também uma longa carreira de produtor, tendo feito o aclamado Garage Rock, evento que por 12 anos reuniu bandas de vários estados para mostrar seu som. Começou com 200 pessoas, em uma casa no Corredor da Vitória, e a cada ano ganhava mais espaço e mais público e passava a exigir grandes estruturas. “Chegou uma hora que não tinha mais como ordenar aquilo tudo e preferi me afastar”, comenta ele, que destaca seu perfil organizado, porém solitário e, de certa forma, recluso.

Além de mudar de cidade e de profissão deixando a carreira de produtor, Rui tem feito investidas por outras áreas, apesar da escolha de fé pela literatura. Como fotógrafo, programa para este ano a exposição Meninos do Brasil, sobre crianças e adolescentes em situação de risco. As fotos foram feitas em São Paulo, Salvador e Ituberá (sul da Bahia). “São três momentos diferentes, de crianças em dificuldades mas ainda em contato com a natureza e integradas ao seu meio, em Ituberá, do processo gradativo de destruição, como acontece em Salvador, e já totalmente excluídas e apartadas pelo concreto e pela cidade, como em São Paulo”, detalha.

Trocando literaturas com meio mundo através de seu blog http://www.meiohomem.blogspot.com/ o roqueiro poeta está com seu livro disponível para venda através dos sites das livrarias Cultura e na Martins Fontes. Em São Paulo, poemas e trechos podem ser ouvidos na própria voz do autor, em saraus literários, como o Cantos Negreiros programado para o próximo sábado, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima.

Radicado em São Paulo, o baiano Rui Mascarenhas reúne 25 poemas sobre a vida urbana em "Meiohoemem", que lança hoje, na feira Hype do Icba. 

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Rui como vai? existe material da Meio Homem em formato digital? è uma pena não achar nada da banda para se ouvir hoje em dia. grande abraço a_delargue@hotmail.com