quarta-feira, 12 de março de 2008

Jornal A Tarde - Glauco Mattoso e Rui Mascarenhas lançam livros.


Salvador, quarta-feira, 12/03/2008
Glauco Mattoso e Rui Mascarenhas lançam livros.
Por Chico Castro Jr.
ccastrojr@grupoatarde.com.br

Tudo que a poesia deveria ser, mas às vezes se perde nos gabinetes empoeirados das academias, está nos livros Poética na política, do paulista Glauco Mattoso, e Meiohomem, do baiano Rui Mascarenhas.

Na forma, são dois livros bem diferentes. Enquanto Mattoso envereda com paixão na exatidão do soneto, Mascarenhas escreve livremente, ignorando regras e amarras estéticas. Em comum, a origem dos dois autores: o underground rock ‘n’ roll.

Mattoso produz poesia desde os anos 70, quando vendia poemas sujos e escatológicos pelas ruas de São Paulo. Nos anos 80, assinava a coluna A Banana Purgativa na mítica revista Chiclete com Banana, onde dava vazão à sua despudorada podolatria.

Em Poética na política, ele demonstra uma técnica perfeita no limitado espaço do soneto, ao mesmo tempo em que exercita sua revoltada verve satírica contra os sanguessugas da política nacional e os absurdos da vida brasileira. Sua fascinação pelo soneto é tal que ele, inclusive, já ultrapassou o recordista italiano Giuseppe Belli (1791-1863), que, segundo consta, teria escrito 2.279 sonetos. Mattoso já escreveu mais de 2.300.

“E não vou parar por aí, não. Sempre fiz poemas satíricos. A sátira está ligada à oposição política sistemática. Aliás, foi um baiano, Gregório de Mattos (1623-1696), que inaugurou esse estilo no Brasil”, recorda Mattoso.

Em Sacramental, ele dispara contra o QI (Quem Indica), uma prática muito comum Brasil afora: “Cartucho, proteção ou pistolão / é tudo a mesma merda, o mesmo esquema: / testadas aptidões, perícia extrema / não bastam sem o apoio do chefão”.

Rui e Baby Consuelo do Brasil

Quem freqüentava os shows de rock na Salvador dos anos 90 certamente cruzou com a pessoa esguia de Rui Mascarenhas: ex-produtor do saudoso Garage Rock Festival, que durou quase uma década, Rui também era figura fácil no meio, pois cantava numa das bandas punk mais cultuadas – e infelizmente, pouco ouvidas – daquele período: a Meiohomem.

POEMAS – E é aproveitando o nome da antiga banda, e adicionando o subtítulo Eternidade, meu canto que fica!, que Rui lança seu primeiro livro de poemas, com materiais escritos desde 20 anos atrás, até o ano passado.

Com seu estilo livre e exclamativo, Rui impressiona pela força poética exclamativa impressa em cada verso, nos quais aborda sua sexualidade, a miséria escancarada nas ruas de Salvador e São Paulo (onde mora há cinco anos) e suas inquietações filosóficas.

“Eu escrevia muito quando era mais jovem, mas aí, numa certa idade, eu parei para dar um rolé pelo mundo, pensando em me dedicar à poesia quando chegasse aos 40 anos. E quando cheguei lá, realmente fui retomando, mas aos poucos, né? Você não se torna poeta num estalar de dedos”, considera Rui.

“Nos meus poemas eu me mostro asfixiado pela cultura ocidental, e aí vou acusando essa mesma cultura, procurando encontrar espaço para minha própria individualidade. Eu remexo um caminho, vou em busca de uma nova via e resgato minha própria humanidade e o amor, que na verdade está em todo mundo”, explica.

Entre os 25 poemas do livro, dois se destacam: Cabeça, que também era a letra do hit subterrâneo homônimo da Meiohomem, e Diário de um negro ratatáia que nunca morre. Este último é o mais recente do autor, que o define como um “concretamento de palavras, um patê de lajes, uma regurgitação que na verdade ainda não está concluída. É sobre exclusão social, aqueles que estão à Margem”.


Poética na política Glaco Mattoso
Geração Editorial 112 p. / R$ 24

MEIOHOMEM Rui Mascarenhas
Independente 108 p. / R$ 16
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