quinta-feira, 15 de abril de 2010

angola janga (pequena angola)


“aquele não foi o pior sofrimento quando íamo mato a dentro fugindo a dente de cão”

Pior o rosto vincado nos anos de solidão e assombros!
Pior o olhar catatônico que não distingue quem somos!
Pior viver a honra de tão maculada mágoa sob intermináveis escombros!
Pior o degredo da alma no limbo que não diz onde estamos!

“angola janga surge a qualquer momento! a qualquer momento!”

“com as forças de Olorum! de Olorum! Nosso Alimento!”

... muitos moços moças - poucos velhos dando o exemplo
... aos que nunca chegaram tão longe - a sol poente
... aos que nunca antes aqueles matos investigaram

“nego bom não se rende! não se vende!”

... mato que cortava feito navaia,
... e pio de pássaro nunca ouvido – seguido
... por olho de índio menos temido que os ferros na senzala

...e quando a noite caía ninguém entendia a tormenta que se passava.

E naquela noite,
Eu quis a morte de imediato.
Mas a morte não me quis!

Em Pânico devora-me as entranhas!
Em Pânico ressuscito!

Aí De Nós Quando A Noite Nos Deixar - Se Pudéssemos Abrir Os Olhos À Realidade - Fitaríamos Com Horror A Vida - O Espírito Haveríamos De Despertar - O Que Certamente - A Mercê De Tantas Atrocidades - Deixaria O Corpo Transfigurado Ao Extremo - A Ponto De Partir - Pois O Espírito Não Nos Quer Atados Ao Mundo - Quer Abandonar-nos A Qualquer Momento

...e fomos encontrando terra boa,
Boa como os deuses haviam dito!
Bendito Exu! Que nos trouxe a essas alturas!
Bendito Oxossi! Por debandar esses malditos!
Bendito São Benedito! Aos que existem na extensão de minha textura!


...vejo que muitos anos se passaram
Do Cafundó a Santo Amaro,
Onde a morte não me quis naquela noite
Nem a lenta agonia do açoite!

...e encontro nossas antigas casas de dandaka embrutecidas!

Lado a lado sobremesmos ombros lacerados,
Meu Desorganizado Quilombo!

Vejo o intenso colorido que derrama quando essas delicadas habitações de miúdos abrem suas portas

O sangue a escorrer-lhes as veias de vias em avenidas expostas Que de súbito amanhece exalando os odores agreste dos Silvas, das frias calçadas sob as costas

E Salve! Salve! Os Santos! Os Souzas!
Os Joseniltons também!

Que dia a dia revivem a mesma enxotada refinada de horrores às vistas cegas da Igreja Matriz da Eterna Glória dos Honoráveis Senhores!

...vejo quão tristes teus filhos são!

...um amargo frescor lhes saem das janelas do riso como se entoassem cânticos de alegria no exílio.

...sigo por entre ruas estreitas e tortas

O sândalo perfuma o machado que o corta

Nenhum comentário: