A trama de “Romeu e Julieta” não foi inventada por William Shakespeare.
Segundo a enciclopédia virtual http://pt.wikipedia.org/, a peça é a dramatização do poema narrativo de Arthur Brooke, que também não o criou.
Originalmente, derivava de uma história de Masuccio Salernitano, “Mariotto e Gianozza, em Il Novelino”, de 1476; assim mesmo, como título de ópera;
...estória essa que teve ainda um toque a mais em sua multiplicada composição por Luigi da Porto, que deu a forma moderna e um novo título:
“Istoria novellamente ritrovatta di due Nobili Amanti";
...dando o nome de “Romeus e Giulietta” aos personagens principais e mudando o sitio da história original, antes cidade de Siena, para Verona.
Simplificando, vemos que é justo recordar a máxima popular que se repete nada se cria, tudo se transforma, e agradecemos a Shakespeare por ter assomado à textura da obra que então passava a se chamar "A Trágica História de Romeu e Julieta", de 1562, adicionada de novos enriquecedores elementos.
De modo geral a história de amantes com destino trágico - onde o Amor extremado, sujeito a emoções sem limites, lança-se, às últimas conseqüências, ao encontro do amante idealizado, mas encontra ali, em igual contrapartida, o “Ódio!”
Imposto e Intransponível, que prenuncia a morte sufocando a realização dessa paixão etérea - tem paralelos com muitos contos similares em diferentes culturas;
...e essas vem relatando amores diversos desde quando o homem urra e anda em grupos, muito antes dessas datas aqui registradas, antes mesmo que se mate uma rainha cartaginesa em nome de um amado fugidio, Enéias;
...em contínua evolução...
...transformação de gêneros e correntes literárias, onde o contador da vez, leva às últimas conseqüências a idéia de que o sentimento deve sobrepor-se à vida e a razão.
Camilo Castelo Branco nos chega em 1862 com “Amor de Perdição”, considerado um “Romeu e Julieta” lusitano, consagrando o Romantismo português levando ao exagero seus ideais românticos;
...conta a estória do amor impossível entre os jovens “Simão e Teresa” que buscam conquistar um ao outro, objetos recíprocos de fulminate paixão,
...condenando trágico destino aos nossos heróis, buquê de flores - que se perdem em busca desse amor inrrevogável, separados por desafetos, rivalidades e os deslimites de ventos inavegáveis.
Os dois textos se acrescentam e se completam no imaginário de sociedades hierarquizadas;
...dividida em classes sociais;
...cujo poder centralizado na autoridade da escala superior, determina e fiscaliza os limites comportamentais das classes subseqüentes inferiores;
...impondo regras que devem ser obedecidas sem questionamentos ou defesas, pois, supostamente, equilibram e favorecem a estabilidade do sistema social vigente.
A exemplo de sujeição que nossas mulheres heroínas vivem, nos dois relatos, elas amam e desejam com extrema ansiedade;
e à excitante agonia dos conflitos se entregam, se submetem;
...ora aos devaneios idealizados da paixão, ora ao exame corrompido e aos tormentos da consciência presa aos ditames sociais.
Em especial, as duas são “condenadas”, e reagem cada uma, à sua forma, à lei do casamento “arranjado” - que selava a união dos noivos por motivos políticos ou financeiros.
Essa é a historia da criação romântica, de um estado de espírito romântico, que esclarece toda uma visão de mundo a partir do próprio indivíduo centrado em si mesmo, criando heróis idealistas, que clamam suas paixões utópicas, berram por amores ideais! - ainda que trágicos - a ferros - em conflito com os objetivos traçados pela sociedade.
...talvez seja apenas uma simples reação do viver que intensificado de prazer, reage contra a canga alheia que lhe é imposta;
...e determinado a curtir essa paixão ideal, esse desregrado convite de Eros, mesmo que por alguns dias, horas, minutos! E pronto!
Cego e Feliz sabendo que abriu mão de um futuro estrangeiro, um exílio “promissor”, confortavelmente sentado a nau de uma existência vil e corrupta que segue lentamente massacrando os sentidos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário